7 de ago. de 2011

Qual o propósito de sua vida?



Até outro dia tinha convicção de que nasci para fazer a diferença: ser celebridade, ter muito dinheiro, casa luxuosa, viajar mundo a fora, beber os melhores vinhos, ter reunião com o presidente do país, fechar negócios e ainda, ajudar os necessitados. O objetivo era marcar meu nome na história do mundo. Sempre fui uma menina ousada, segundo minha mãe. E, ousadia, é a força motriz dos bem sucedidos. Ela dizia que aos quatro anos já demonstrava meus talentos artísticos. Desfilava pela rua com roupas e sapatos que roubava do guarda-roupa dela. Totalmente desengonçada, na verdade, bem esquisita. Pra tomar injeção xingava feito gente grande e obtinha uma força absurda na luta para afastar a enfermeira. Eram necessárias três pessoas para fazer a aplicação. Uma simples agulhada virava um combate. Mamãe achava que estava possuída. Aos 8, sonhava em casar. Só usava roupa branca e andava com buquê de flores nas mãos. Aos 12, no auge da rebeldia, jogava bola com os moleques da rua e vivia na igreja assistindo aos casamentos. Aos 15 copiava Che Guevara, lia Marx e aplicava o meu estilo de comunismo na defesa dos oprimidos e, na minha, própria defesa, acabei com o pagode que rolava aos domingos no bar ao lado do meu lar doce lar. Sem saber que mais tarde estaria “amarrando o tchan, segurando o tchan..tchan..tchan!”

Sim, voltando ao pagodão lá da rua foi simples: ameacei o vizinho de dois metros de altura, musculoso e terrivelmente mal-humorado com meia dúzia de ovos de quintal, água quente e algumas palavras tipo:

- Você sabia que existe lei do silêncio? Já denunciei a polícia. E tem mais: se não acabar com essa baixaria você vai sair dessa casa que transformou em um pardieiro brega de pessoas alcoolizadas e safadas agora!

É que a casa onde o vizinho fez um bar estava no meu nome. Papai havia deixado antes de morrer. Então, passei a ser autoritária aos 18 anos, numa vitória esplêndida. Acabei com aquele horror musical e baixo astral! Mas fui embora da rua logo depois pra outro estado. Entrei em uma faculdade de loucos. Virei jornalista. Mamãe diz que escolhi a profissão por que queira aparecer e tinha razão. Acho que foi de tanto ler Capricho e as revistas de celebridades. Tinha convicção de que casaria com Maurício Mattar ou Marcelo do grupo Dominó, que moraríamos em uma bela cobertura no Jardim Botânico, teríamos dois filhos e apresentaria o Jornal Nacional. No começo foi assim. Desfrutei de um glamour digno de estrela de cinema. Vi minha foto ser publicada nos jornais e sites, conheci lugares que nunca antes imaginava pisar os pés, alguns, em viagens difíceis atrás de notícia. No afã de ser livre lá vai eu soltar de pêndulo e, depois, acordar no hospital com sete pontos na cabeça. Bebi os melhores drinks e, até, aprendi a falar adequadamente:

- imagino como seria sorver um vinho numa taça de borda fina e haste longa

Fiquei hospedada em hotéis chiques, vivia em reunião...não de negócios, mas de pauta dentro da redação para lavar roupa suja. Ah, estive com o presidente várias vezes e o máximo que consegui foi uma entrevista agachada depois de muitos empurrões do segurança e de outros jornalistas. A vida sempre foi uma loucura – diga-se: correria. Da casa para rádio, da rádio para televisão, da TV para curso de pós e assim foi até os 30 anos quando larguei tudo para pensar no meu propósito de vida.

Não casei com celebridade e perdir o sonho de entrar na igreja de véu e grinalda.  Jornal Nacional? que nada,  apresentei apenas o telejornal local e filhos só Deus sabe quando. Algumas vontades continuam aristocráticas, mas meu salário é de proletariado.

 Alguns dizem que o propósito é ter sucesso, ser feliz, ter família. Calma, não sei qual o meu propósito, ainda. De uma coisa tenho convicção, sempre quis ser eu. E o meu eu me leva para a simplicidade. Na minha casinha, com poucos amigos e família, ouvindo minha coletânea de CD, lendo as centenas de livros da biblioteca, vendo o azul do mar, sentindo a brisa acariciar o rosto que um dia foi jovem e inconseqüente.

De uma coisa tenho certeza, tudo chega na hora certa. O sol brilha pra você em algum lugar, em algum momento, com algum propósito. Deixe-o invadir!

Ô, minha história não foi conhecida pelo mundo, mas o meu mundo, diga-se - Eu e Deus – conhece a trajetória, sem glamour. Isso basta!

3 comentários:

  1. Sem muitos comentários.. ; Grande e linda mensagem!! D++++!!

    @alexjohnny

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  2. Legal! Me faz lembrar muita coisa. Gosto dos seus textos. Parabéns!

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  3. Amei o blog!
    E que post hein!!
    Ameii, vc como sempre, uma mulher simpatica, ótima comunicadora, e muito, muito inteligente!
    Por isso sou sua fã!
    Te ouço toda quinta no confessionário!
    Beijoks e continue assim!

    @jamile_britto

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